Meu Pet, Meu Amigo

Quando o juiz apita, ele late: como o futebol afeta o seu cachorro.

Futebol

Cachorro e futebol; imagine a cena: a TV no volume máximo, o narrador grita, a torcida explode, você levanta do sofá como se estivesse no estádio… e, no meio desse caos organizado, está o seu cachorro. Ele olha para você, olha para a tela, sente o chão vibrar com seus pulos e tenta decifrar por que a casa inteira enlouquece por causa de uma bola que não é dele. Para alguns cães, dia de futebol é sinônimo de festa e energia; para outros, é um filme de terror sonoro com fogos, gritos e estresse.​

Torcida canina

Muitos tutores juram que o cachorro “torce junto”, e não é só impressão. Alguns cães aprenderam a associar o gol a um momento de explosão positiva: gente rindo, abraços, petiscos caindo no chão, atenção extra. Quando o time marca, o cão pula, corre pela sala, late e, em alguns vídeos virais, até parece comemorar olhando para a TV, porque a energia emocional do tutor contagia o animal.

Do ponto de vista comportamental, o cachorro não entende as regras do futebol, mas entende muito bem o que o seu corpo comunica. Postura mais tensa, respiração acelerada, voz mais alta, cheiros diferentes liberados pelo seu próprio estresse ou euforia. Para ele, aquilo tudo é um grande evento social em que a “matilha humana” entra em modo excitação máxima – então ele entra também.

Som intenso

Existe, porém, um lado menos divertido: o som. A audição do cachorro é muito mais sensível do que a nossa, tanto em volume quanto em frequência, o que faz com que gritos, apitos, fogos e até o barulho da torcida pela TV possam ser percebidos como extremamente agressivos. Estudos sobre estresse acústico em cães mostram que ruídos intensos e imprevisíveis aumentam frequência cardíaca, respostas de medo e comportamentos de fuga ou congelamento.

Quando o narrador berra um “GOOOOOOL” e a casa inteira responde com gritos e palmas, o seu corpo interpreta como alegria. Mas o corpo do cachorro pode ler como “algo muito grande e assustador acabou de acontecer”. Se isso se mistura com fogos vindo da rua, buzina de carro e gente sacudindo coisas dentro de casa, o cérebro do cão pode entrar em modo alerta total.

Medo escondido

Nem todo cachorro que parece “quieto” durante o jogo está bem. Alguns sinais de medo e estresse são discretos. Lamber os lábios sem motivo, bocejar demais, se encolher num canto, evitar contato visual, tremer levemente ou ficar andando sem parar pela casa. Em casos mais intensos, o cão tenta se esconder embaixo de móveis, arranha portas, vocaliza desesperado ou se recusa a ficar no mesmo cômodo que a TV.

Histórias reais mostram cães que interpretam a raiva do tutor com o time como raiva direcionada a eles, encolhendo-se ou buscando abrigo sempre que há um grito mais forte. Para o animal, não faz diferença se o motivo é um pênalti perdido ou um erro de passe: o que conta é o tom de voz, a expressão facial e a tensão no ar. Se isso se repete jogo após jogo, a associação “futebol = medo” pode ficar cada vez mais forte.

Jogos seguros

Se você ama futebol e ama seu cachorro, a boa notícia é que dá para trazer o pet para a experiência de um jeito saudável e divertido. Uma das formas mais legais é criar versões “caninas” da brincadeira, adaptando o futebol para o corpo e os limites do animal. Ao invés de chutes fortes, você pode rolar uma bola grande e macia para o cachorro perseguir, usar bolas específicas para cães ou ensinar truques como “defender” com as patas, sempre em ritmo leve.

Atividades inspiradas em futebol são excelentes para gastar energia física e mental. Buscar a bola, fazer pequenos circuitos que lembram dribles. Estimular o cão a passar por entre cones e obstáculos enquanto você narra a “jogada” em tom de brincadeira. O importante é manter o foco na segurança: nada de bolas pequenas que possam ser engolidas, superfícies escorregadias, impactos fortes ou disputas com crianças que possam machucar o pet.

Ambiente calmo

Para cães mais sensíveis ao barulho, preparar um “refúgio antijogo” pode fazer toda a diferença. Em outro cômodo da casa, mais afastado da TV e das janelas, você pode montar um cantinho com cama confortável. Como, por exemplo: brinquedos recheáveis com petiscos, água fresca e talvez um som ambiente suave para ajudar a abafar o barulho da rua. Muitas recomendações para fogos de artifício também valem para dias de partida: fechar cortinas, manter portas e janelas bem fechadas e oferecer ao cão um local onde ele se sinta protegido.

Em casos de cães com histórico de pânico intenso – tremores fortes, tentativas de fuga, automutilação ou destruição por desespero – é importante conversar com um veterinário ou comportamentalista. Profissionais podem indicar estratégias específicas, como dessensibilização ao som, enriquecimento ambiental bem-planejado e, em alguns casos, até suporte medicamentoso em períodos críticos.

Festa equilibrada

Você não precisa escolher entre ser torcedor apaixonado e tutor responsável: o segredo está em equilibrar as duas coisas. Pequenas mudanças, como evitar gritar diretamente perto do cão, não pegar o pet no colo quando estiver fora de si de emoção. Respeitar os sinais de desconforto, já reduzem bastante o impacto do jogo na saúde emocional dele. Em vez de transformar cada lance em uma explosão sonora; você pode guardar a energia máxima para os grandes momentos e, ainda assim, manter um clima mais previsível para o animal.

Também vale criar rituais positivos específicos dos dias de jogo: antes da partida, fazer uma boa caminhada! Oferecer um brinquedo de longa duração ou até separar um petisco especial para o intervalo. Assim, o futebol deixa de ser apenas uma “tempestade de ruído” e passa a ser um evento com previsibilidade e recompensas. Também ajudando o cachorro a associar esse dia com coisas boas.

Final de partida

No fim, o futebol é só um cenário. O que realmente conta para o seu cachorro é o papel que você desempenha dentro dessa história: se é o humano que grita sem controle ou o humano que ele procura quando o mundo parece alto demais. Quando o juiz apita e a torcida enlouquece, o seu pet não está preocupado com o placar! Ele está olhando para você, tentando entender se é hora de brincar, se esconder ou simplesmente deitar ao seu lado no sofá.

Se você conseguir transformar seus dias de jogo em algo que faça sentido também para o seu cachorro; vocês não vão dividir apenas o time do coração, mas um vínculo ainda mais forte, digno de final de campeonato.

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Maria Sousa

Apaixonada por animais, dedico-me a compartilhar informações práticas e de qualidade sobre cuidados com os pets. Como criadora desse blog especializado no tema, ofereço dicas e curiosidades para facilitar a vida dos tutores e promover o bem-estar dos bichinhos.