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Mordidinhas de Amor: Por que seu cachorro morde sem machucar?

Mordidinhas

Mordida leve

Alguns cães encostam os dentes na pele do tutor, “beliscam” com a boca, mas não apertam a ponto de machucar. Esse comportamento é chamado, em comportamento canino, de mouthing ou “play biting” e, na maior parte das vezes, não é agressivo. Na prática, são as famosas “mordidinhas de amor”, um jeito muito canino de se comunicar com quem eles confiam.​

Desde filhotes, os cães aprendem a explorar o mundo com a boca. Eles usam o focinho e os dentes para conhecer texturas, interagir com irmãos, brincar e testar limites. Quando crescem, muitos continuam usando essa linguagem corporal com humanos, só que de forma muito mais controlada, como se o cão dissesse: “Estou aqui, quero atenção, mas não quero te machucar”.​

Comunicação canina

Para entender as mordidinhas, é preciso olhar para o pacote completo de sinais que o cachorro emite. Cães não falam com palavras, mas combinam postura corporal, olhar, rabo, orelhas, som e boca para transmitir mensagens. Em um contexto de carinho, esses sinais tendem a ser suaves, fluidos e relaxados.​

Quando a mordida é carinhosa, o corpo do cão geralmente está solto, o rabo balança de maneira amigável e a expressão facial passa tranquilidade, com olhos macios e boca levemente aberta. Muitas vezes, ele alterna entre lamber e dar pequenas mordidinhas, como se estivesse “ajeitando” você, do mesmo jeito que faria com um amigo canino muito próximo.​

Amor e vínculo

Uma das interpretações mais aceitas é que essas mordidinhas funcionam como um gesto de afeto e intimidade. Cães que se sentem seguros e conectados com o tutor tendem a usar comportamentos que, entre eles, são típicos de vínculo, como encostar o corpo, lamber o rosto e morder bem de leve. É quase como um “abraço canino”, usando a boca no lugar dos braços​

Em alguns casos, o cão pode até fazer um movimento conhecido como “cobbing”: ele passa os dentes da frente de forma repetida na pele ou na roupa, lembrando alguém mastigando um milho na espiga. Esse tipo de toque costuma aparecer em momentos de relaxamento, depois do tutor fazer carinho, ou quando o cachorro está muito feliz por ver a pessoa.​

Convite para brincar

Outro motivo frequente para as mordidinhas são os convites para brincadeira. Em vez de latir ou pular o tempo todo, alguns cães usam a boca para chamar atenção: mordem levemente a mão, a barra da roupa ou o braço, e logo em seguida fazem postura de brincadeira, como baixar a parte da frente do corpo e balançar o rabo. É a forma deles dizerem: “Vamos interagir? Quero mais de você agora”.​

Esse comportamento é muito comum em cães jovens, com bastante energia para gastar. Quando não recebem estímulos suficientes, acabam intensificando o mouthing como estratégia para não serem ignorados. Se toda vez que mordem de leve ganham atenção, mesmo que seja bronca, o cérebro pode entender que “funcionou”, e o hábito se mantém.​

Exploração e tédio

A boca também é ferramenta de exploração. Alguns cães mordiscam mãos, objetos ou roupas simplesmente porque estão curiosos ou entediados. Em um ambiente com pouco enriquecimento – poucos brinquedos, poucas atividades, pouca variação – é comum o cachorro buscar qualquer forma de estímulo, e o tutor vira um alvo de interações.​

Nesses casos, as mordidinhas de amor não vêm acompanhadas de sinais clássicos de brincadeira intensa ou de extrema euforia. Em vez disso, o cão pode alternar entre roer móveis, pegar coisas no chão e mordiscar o tutor como parte do mesmo padrão de “não sei o que fazer, então vou morder algo”. A boa notícia é que, com mais atividades físicas e mentais, esse tipo de mordida tende a diminuir bastante.​

Inibição da mordida

Um ponto-chave para que essas mordidinhas não machuquem é a chamada inibição de mordida. Em termos simples, é a capacidade do cachorro de controlar a força da boca, aprendida principalmente na infância, ao brincar com irmãos de ninhada ou outros cães. Quando um filhote morde forte demais, o outro reclama ou interrompe a brincadeira, e isso gera um aprendizado poderoso.​

Cães com boa inibição de mordida conseguem usar os dentes de forma delicada, ajustando a pressão conforme o contexto. Isso explica por que muitos conseguem segurar a mão do tutor sem causar dor, mesmo em momentos de empolgação. Já animais que não tiveram essa socialização adequada podem apertar com mais força sem “perceber”, o que aumenta o risco de acidentes.​

Diferença da agressão

Distinguir mordidinhas de amor de uma mordida agressiva é essencial para a segurança de todos. Nas mordidas carinhosas, o corpo do cão está solto, o rabo geralmente se move de forma amigável e não há rosnados profundos, olhar fixo intenso ou postura rígida. A retirada da mão pelo tutor, na maioria das vezes, não gera escalada da tensão.​

Já em situações de medo, dor ou irritação, o cenário muda. O corpo pode ficar enrijecido, o cão se inclina para trás ou para frente com tensão. O rabo pode ficar parado ou baixo, e o olhar se torna duro, mas focado. Se as mordidas deixam marcas, geram dor imediata ou são acompanhadas de rosnados, vocalizações fortes e tentativas de afastar o tutor, não se trata de “mordidinha de amor”, e sim de um alerta sério.​

Quando se preocupar

Alguns sinais indicam que o comportamento merece avaliação profissional. Se as mordidinhas de amor aumentaram de intensidade de forma rápida ou aparecem em contextos específicos, como quando o cão é tocado em determinada parte do corpo, pode haver dor ou desconforto físico envolvidos. Problemas ortopédicos, otites, questões odontológicas e outras condições dolorosas podem fazer o cachorro reagir ao toque.​

Outro ponto de atenção é quando as mordidas acontecem sempre que alguém se aproxima de objetos, comida ou lugares que o cão considera valiosos. Nesse caso, pode haver componente de guarda de recursos, um comportamento que precisa de manejo cuidadoso para evitar acidentes e melhorar a sensação de segurança do animal. Quanto mais cedo um profissional em comportamento for consultado, maior a chance de reverter o quadro com tranquilidade.​

Como reagir

A forma como o tutor responde às mordidinhas influencia muito se o comportamento vai diminuir, se manter ou piorar. Gritos, empurrões ou punições físicas tendem a aumentar o estresse e, em alguns casos, podem transformar um gesto inicialmente carinhoso em resposta defensiva. Em vez disso, faz mais efeito ensinar, com calma, como o cão deve interagir.​

Uma estratégia comum é redirecionar a mordida: quando o cachorro der a mordidinha na mão, o tutor oferece um brinquedo apropriado, elogiando quando ele morde o objeto certo. Também ajuda reforçar com carinho e atenção os momentos em que o cão se aproxima sem usar a boca, fortalecendo a ideia de que contato suave e respeitoso gera recompensas melhores.​

Educação gentil

Ensinar limites não significa reprimir o afeto do cachorro. Pelo contrário, uma educação gentil mostra ao cão que ele pode continuar expressando carinho, mas dentro de combinados seguros para todos. Brincadeiras estruturadas, pausas programadas e comandos simples, como “senta” ou “espera”, ajudam a dar previsibilidade e diminuem a ansiedade durante a interação.​

Se o tutor sentir que, sozinho, não está conseguindo ajustar as mordidinhas, é perfeitamente indicado procurar um adestrador! Que trabalhe com reforço positivo ou um médico-veterinário especializado em comportamento. A união entre orientação técnica e amor do tutor costuma ser a chave para transformar mordidas desajeitadas em gestos de carinho equilibrados e seguros no longo prazo.​

Voz de Maia

No fundo, essas mordidinhas de amor são cartas carimbadas na língua que o seu cachorro conhece melhor: a do toque. Ele não escreve bilhetes, mas “fala” com os dentes de leve, dizendo que está ali, que confia em você, que quer presença. Quando o tutor aprende a ler essa linguagem, algo muda. A mão que antes temia a mordida passa a entender o convite, e o medo dá lugar a um vínculo mais fino, mais atento, quase cinematográfico. Cuidar dessas pequenas mordidas é, na verdade, cuidar da história que vocês constroem juntos, uma brincadeira segura de cada vez.

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Maria Sousa

Apaixonada por animais, dedico-me a compartilhar informações práticas e de qualidade sobre cuidados com os pets. Como criadora desse blog especializado no tema, ofereço dicas e curiosidades para facilitar a vida dos tutores e promover o bem-estar dos bichinhos.